sábado, 7 de março de 2020

Claraboia, de José Saramago

Claraboia é o segundo livro de José Saramago. O escritor terminou-o a 5 de janeiro de 1953, mas o livro só foi publicado postumamente.
Paragrafado e pontuado de forma convencional, Claraboia apresenta diversos dramas pessoais e familiares: um pequeno prédio da classe trabalhadora pelos anos 50, em Lisboa, e seis apartamentos, 15 pessoas, 10 delas mulheres.
As suas vidas são frágeis, duras. Frustração, miséria moral, insegurança, geram inevitavelmente competitividade e maldade.
Adriana e Isaura conseguem à justa sustentar a mãe e a tia. Personagens solitárias, cujo desejo sexual não encontra um escape.
A jovem Claudinha representa uma geração que quer romper com os convencionalismos da geração anterior.
Os pais de Claudinha são infelizes no casamento.
Emílio, o caixeiro de praça, e a sua mulher espanhola odeiam-se mutuamente. Para a leitora que sou, uma das parte mais interessante deste livro ocorre entre as páginas 296 e 301. Nessa fase, a história fala-nos da sensação de liberdade de um marido infeliz, cuja mulher se ausenta de casa por três meses.
Caetano e a sua esposa Justina, perseguidos pela perda de uma filha, passam de um velho ódio à violência declarada.
Abela e sedutora Lídia, que por seu estilo de vida livre e por ser sustentada pelo amante Paulino Morais, enfrenta os julgamentos velados da vizinhança, no entanto é uma mulher que se eleva e se afirma na obra.
A personagem mais forte no livro é Silvestre, o sapateiro. Nos romances posteriores de Saramago, trabalhadores honestos como ele irão aparecer, sempre significativos, sempre usando a sua relevância discretamente. Será esta personagem um alter-ego de Saramago? Ou representará o seu avô, que Saramago homenageou por várias vezes? Silvestre é casado com Mariana, «Tão gorda que fazia riso, tão boa que dava vontade de chorar» ‒‒ um casamento de almas tranquilas, de gente generosa, meticulosamente bom.
À beira da pobreza, Silvestre e Mariana alugam o quarto disponível a um inquilino, Abel.
Abel tem mais ou menos a idade do autor do livro na época em que o escreveu, 31 ou 32 anos, e é difícil não o identificar em certa medida como um retrato do artista quando jovem.
Abel é o jovem à procura de um sentido para a vida, reservado, inerentemente superior, essencialmente taciturno. Abel não quer ser como os outros, desperdiçar a sua vida com ilusões. Mas aonde o leva o seu não comprometimento? É um realista preservando-se para atuar quando a ação acontecer, ou um idealista negando a sua apatia?

Exemplo de um diálogo com Silvestre:

“Vivemos entre os homens, ajudemos os homens.- E que faz o senhor para isso?
– Conserto-lhes os sapatos, já que nada mais posso fazer agora.”

No entanto, embora a ação da obra decorra nos anos 50, alguns tabus sexuais e sociais, e, sobretudo, os moradores cheios de preconceitos e do conservadorismo típico, persistem no século XXI e persistirão enquanto a humanidade não evoluir.
Enfim, esta obra é um bom princípio para quem quer conhecer a obra de José Saramago.

Livro apresentado à turma 11ºA em 12 fevereiro 2020




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